Crônica: Virginia Woolf - programa #1


Meu querido.
Tenho certeza de que vou enlouquecer de novo. Não podemos passar por mais uma daquelas crises terríveis. E, dessa vez, não vou sa­rar. Começo a ouvir vozes e não consigo me concentrar. Por isso estou fazendo o que me parece a melhor coisa.

Essas são as primeiras palavras da escritora Virginia Woolf em sua última carta, destinada a seu marido Leonard. A manhã estava aberta e bonita e, mesmo assim, Virginia deixou sua casa carregando pedras nos bolsos. Andou até o rio Ouse e desapareceu nele para nunca mais voltar. 

A escritora nasceu em 25 de janeiro de 1882 e tinha mais três irmãos. Foi aprender a falar depois dos três anos, mas aos seis já contava histórias e, aos sete, já sabia francês e latim. A família era de classe média, mas Virginia nunca teve uma educação formal. A oportunidade de ter um diploma nunca aconteceu. Seus irmãos, sim, foram para Cambridge. A restrição aos estudos acadêmicos, por outro lado, não a impediram de ingressar nas Artes. O pai de Virginia era ligado à escrita e mantinha o Grupo de Bloomsbury, que reunia autores de renome da época. O contato literário com o qual ela tinha era grande e de qualidade, fato que, provavelmente, a influenciou em suas ambições com as palavras. 

Sua vida não era calma. A própria Virginia não era. Foi um acaso que nos anos quarenta ela tenha conseguido se suicidar, porque tentativas anteriores já tinham existido. A primeira grande transformação em seu psicológico aconteceu aos 13 anos, com a morte da mãe Julia. Aos 22, outra tentativa: uma janela, por causa de outra morte, agora seu pai. Mas não deu certo, porque o quarto ficava no segundo andar. Há quem diga que a autora era louca pelo suicídio. O humor bastante recorrente em suas obras também refletia o modo como se relacionava com os outros, mas não reduzia sua tristeza e seus motivos para buscar a morte. Essa busca nem mesmo ficava de fora de sua literatura. No romance Mrs. Dalloway, por exemplo, o suicídio está presente em uma das personagens com muita vontade e com todas as letras. 

Se a realidade de Virginia era caótica, suas obras abraçavam certa leveza. O impressionismo, ainda que muito famoso em pinturas, trouxe à literatura novas profundidades com elementos do lirismo e do fluxo de consciência. Pelo estilo literário carregar muita emoção e subjetividade, é possível conhecer a autora a partir de seus romances diversos. Em Orlando, por exemplo, temos muito de sua sexualidade escondida, mas que hoje é muito debatida em biografias, porque, ainda que tenha se casado com um homem, o amor e a admiração de Virginia era voltada às mulheres. Estudiosos dizem que a troca de papéis de gênero no livro evidencia o fato de que a personagem seria, na verdade, Vita Sackville-West, que também era romancista e por quem Virginia era apaixonada. 

Ainda assim, seu casamento com Leonard aumentou seu equilíbrio emocional e a segurança como escritora. Com ele, fundou a editora Hogarth Press, que publicou boa parte de seus escritos. Foi justamente na literatura que Virginia encontrou um meio de ser quem era e representar seus ideiais, como no caso de seus artigos e discursos feministas. À frente de seu tempo, ela não foi somente uma mulher que não se importava com a as convenções sociais da época, mas uma mulher que transformou o mundo ao seu redor estando dentro dessa sociedade.

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Ainda não ouviu o programa #1? Vem ouvir! :) 

Crônica por: Nina Spim

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